Depois daquele dia, nada de diferente aconteceu por aqui. Estou me sentindo melhor, talvez faça sentido a minha cópia não ousar surgir. Ser sozinho tem seus pontos positivos, posso sempre escolher o restaurante para jantar, o filme para assistir e os eventos que posso frequentar. Ninguém precisa me pressionar para fazer nada, pois sou eu quem estou no controle da situação. Hoje, por exemplo, decidi que irei visitar o museu. Soube que há algumas exposições novas e importantes sobre a minha cidade, fiquei curioso. Visitar os lugares durante a semana tem seu ponto de singularidade, não há uma multidão querendo passar na sua frente, sobram vagas no estacionamento e o silêncio é admirável. Chegando no local, notei que o público do espaço era variado, muitas crianças, homens e mulheres de distintas idades. Enquanto contemplava alguns artefatos históricos, notei que uma figura gentil se apresentava há alguns metros. Era ele. Caminhei rapidamente sem pensar ou calcular o que iria fazer. Percebi que, aos poucos, o corpo estranho estava se afastando, então gritei:
— Estou te vendo, pare aí! Vamos conversar.
Julguei que as minhas tolas palavras não conteriam o homem, mas me enganei. Ele ficou estático, então continuei:
— Tenho me sentido sozinho, e sei que você surgiu porque parte de mim precisava da sua existência, mesmo que sem saber. Estou farto dos desencontros de nossas partes.
*
Leitores, a cena que segue não poderia ser vislumbrada por nenhuma outra alma humana. Após proferir tais palavras, os corpos de Otto e Outro se condensaram, produzindo um enorme clarão sem cor. Ambos voltaram para casa, de onde nunca deviam ter saído.
Autoria: Nicoly Nardes
Parabéns por sua criatividade. Pareceu um episódio de "Além da Imaginação"
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