Quase parentes

Alguns anos se passaram desde que tudo ocorreu, fazem meses que não vejo uma aparição nova. Como um recomeço da vida, decidi largar os empregos temporários e ruins para me dedicar ao que gosto. Voltei aos estudos, terminei uma graduação na melhor universidade e, depois de muitas especializações, retornei ao campus como docente. Estou a caminho da minha primeira aula, confesso que estou nervoso com este novo processo. A minha turma é composta por 31 alunos, quase todos possuem a mesma idade. Estar na faculdade como aluno e, em seguida, como professor, são etapas vivenciadas de uma forma muito única. As salas são as mesmas, ainda consigo identificar as belas árvores, os principais prédios, os animais que correm pelos corredores, mas sei que nada aqui é o mesmo, nem eu. 

Com o passar dos anos, senti que algo sempre me faltou, e isso não muda. Após caminhar por alguns prédios, identifiquei a minha sala, que estava aberta, com os estudantes à minha espera. Adentrei o local muito animado, sorrindo e cumprimentando todos que ali estavam. Eram tantos alunos, tantos rostos e realidades distintas. Assim que me posicionei em frente aos estudantes, uma voz estrondosa se apresenta:


— O professor é igual ao aluno novo.


Gelei, estremeci de raiva e desprezo, nunca lidei com tamanho atrevimento. Porém, no calor do momento, não consegui buscar palavras para explicar tal situação. Equivoquei-me e respondi:


— Somos irmãos.



Autoria: Nicoly Nardes

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