O fim poderá ser o começo

 A ligação se encerrou. Estava muito nervoso e preocupado com o que iria acontecer, mas sabia que precisava agir, e logo. De supetão, levantei-me, os poucos minutos de choque foram essenciais para que o meu cérebro orquestrasse um plano para me livrar daquele ser. O medo de voltar para casa perpassava todo o meu corpo, mas eu precisava voltar.

Corri desesperadamente para a minha residência, que estava há poucos quilômetros dali. Ao chegar, procurei agir de modo silencioso, com passos lentos e calculados. Com os olhos, busquei a minha carteira pela sala, pois precisava dos meus documentos. Ensaiei uma despedida como quem demorará a voltar, fechei as janelas e portas, chequei as tomadas e pontos de energia, e parti. 


Cheguei ao destino em poucos minutos, o motorista do aplicativo estava com pressa. Desci, acompanhado da minha pequena mala de mão. Visualizei os táxis que ficam perto da entrada principal, subi as escadas e me deparei com um lindo relógio, que badalava ao som da 00h. A construção em círculo me encantava, mas me deixava preocupado. Ao meu redor, as pessoas mantinham os seus ritmos de vida, alguns estavam ali para viajar e reencontrar os parentes queridos, o que não era o meu caso. Corri para o centro da rodoviária, que naquele momento, diante da escuridão noturna, era difícil de ser observada detalhadamente.


As singelas luzes o iluminaram quando ele entrou desconfiado, pois estava me procurando. Ao avistá-lo, exclamei:


— Você veio!


— Eu sempre estive aqui, querido Otto. — Ele disse, sorrindo.


— Você precisa partir.


— Você virá comigo?


— Isso foi longe demais, não poderei existir tranquilamente enquanto você me sondar e pairar como um sanguessuga pela minha existência. Tome, pegue esta mala e parta. Construa uma vida em outro lugar, os ônibus desta rodoviária não são como os demais. Aqui, você pode viajar por todas as realidades existentes. Encontre um espaço tempo que goste e parta, eu imploro. A chave para as viagens pode ser acessada pelo gigante relógio. Encontre-o, querido Outro. Esta briga não é nossa, por isso, permito que vá, que seja o meu eu em outra realidade.



Autoria: Nicoly Nardes


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