O evento

A chamada foi encerrada e eu não consegui expressar nenhuma reação. Continuei sentado, pensando em tudo o que estava acontecendo. Era ele, o Outro eu, certamente querendo me controlar, dominar a minha vida e me substituir. Não posso voltar. Ele quem precisa partir. Não poderia me tornar o outro daquela relação. Após a ligação e infinitos pensamentos, julguei que o melhor a se fazer naquele momento era não voltar para casa. Reservei um hotel barato e passei um longo dia tentando elaborar algum plano. Quando o céu escureceu e o barulho da cidade diminuiu, recebi uma ligação. 

— Alô?


— Olá, querido Otto! Estou ligando para lhe parabenizar pelo seu desempenho na reunião desta manhã. Não consegui dizer isso pessoalmente, mas espero que saiba que a empresa está muito feliz com você. Pensando nisso, gostaríamos de confirmar a sua ideia sobre a nossa confraternização ocorrer no Jardim Botânico, neste final de semana. Você vem?


*


O nosso infeliz Otto aceitou o convite com a maior felicidade possível, sem saber o que o destino o havia reservado. No dia do evento, se arrumou com as melhores peças do guarda-roupa e preocupou-se em chegar ao local antecipadamente. O lugar era muito lindo e agradável, como as decorações da comemoração. O pobre homem buscava, com os olhos, alguma coisa distinta que pudesse surgir no local, mas não havia nada. Ao final da confraternização, despediu-se dos colegas e estava indo embora quando, de repente, se deu conta de que não estava com o celular. Voltou para o lugar que estava há alguns minutos e não conseguiu localizar o aparelho, talvez estivesse no carro. No caminho até o automóvel, notou que um senhor se encontrava próximo ao veículo, o homem parecia falar com alguém pelo telefone. Otto passou pelo homem e, sem lhe direcionar um olhar fixo, desejou boa noite. A resposta verbal não veio, mas a física, sim. O corpo estranho se levantou e bateu fortemente na cabeça de Otto. A pancada foi fatal. Dizem que após isso, a sua cópia, O Outro, voltou para casa. O duplo continua se destacando no trabalho e há boatos de que em breve será promovido. O homem mata e morre pelo ofício.



Autoria: Nicoly Nardes

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