A última escolha

"O que eu faço com essa aqui?” Ele ouviu o motoqueiro que acabara de desmaiar sua amante perguntar.

“Ela não é problema nosso, desova dentro do lago. Precisamos é levar a cobaia de volta ao doutor”. Em um rápido movimento, o segundo motoqueiro retirou um saco plástico preto da mochila e começou a forçar o cadáver para dentro dele.

Talvez pelo desespero em ver sua amante ser arrastada pelas pequenas pedras até o lago, ele não percebeu o quão insólito era aquela cena, pois o cadáver, na condição em que estava, nem por um momento se torceu ou se despedaçou, parecia uma boneca rígida e inquebrável. 

Foi o barulho do corpo de sua amante se chocando contra a água que finalmente o fez agir. Correu como nunca antes em direção ao lago e, mergulhando de ponta, agarrou-a e começou a nadar de volta à superfície. Tudo parecia que iria acabar bem, foi quando ouviu altos disparos, e percebeu estar sendo bombardeado de tiros.

As balas acertaram primeiro a mulher e logo depois ele sentiu uma aguda dor no braço esquerdo e outra no abdômen. Não percebeu quando soltou sua amante e nem que começou a afundar lentamente. Como um sussurro, ele ouviu os motoqueiros falarem:

“De onde apareceu esse aí?”

“Pouco importa de onde veio, desde que vá para o fundo do lago. Agora vem aqui e pegue pelos pés, vamos voltar antes que mais alguém apareça”.

“O que você acha de todo esse experimento do doutor?".

“Já te disse, se essa injeção realmente funcionar alguma vez, vamos ter os corpos mais resistentes do mundo. Agora para de papo e me ajude a por a cobaia no barco, depois pegue a moto e me encontre do outro lado do lago, o doutor quer saber por que deu errado outra vez”.


Autoria: Yuri Santos da Luz

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