A boa escolha

Há alguns metros ele observava sua amante ser arrastada sobre os cascalhos para a beira do lago. Sabia que precisava fazer alguma coisa, chamar alguém, talvez gritar. Como era possível, naquela hora do dia, o local estar completamente vazio?

O medo e a insegurança o deixava plantando, como se fosse só mais outro eucalipto. Ele olhou para aquela imensa árvore à sua frente e avistou as iniciais do seu nome e o de sua amante cravados dentro de um coração, aquilo parecia ter acontecido em outra vida.

Ele não soube quanto tempo divagou naquelas lembranças, mas quando seus olhos voltaram para o lago, as águas novamente estavam agitadas, e na margem os motoqueiros, com certa dificuldade, tentavam colocar o cadáver dentro de um saco plástico.

Demorou alguns segundos para perceber o ocorrido. Sua amante havia trocado de lugar com o corpo da mulher e, quanto mais ele demorasse para reagir, mais fundo ela estaria.

Em frases desconexas, ele ouvia os homens conversarem sobre injeção, doutor e cobaia. Ao conseguirem pôr o corpo putrefato no interior do saco plástico começaram a caminhar de volta de onde vieram.

As águas novamente acalmaram-se assim como o ritmo das batidas de seu coração. Tudo finalmente estava acabado, inclusive seu pecaminoso relacionamento.

Andou em direção ao lago, pegou alguns cascalhos e atirou onde outrora o corpo de uma mulher boiava. Não sabia o motivo, mas não sentia-se receoso por não ter ajudado sua amante, não seria ele se resolvesse bancar o herói. Talvez em uma realidade paralela aquilo acontecesse, no entanto, quais as chances de dar certo? Definitivamente havia feito uma boa escolha, caso contrário poderia ser ele, ali, a se afogar. Não chamou a polícia, pois sabia que em poucos dias o corpo de sua amante seria encontrado boiando por outrem.


Autoria: Yuri Santos da Luz

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